Mudanças entre as edições de "O Montanhês"
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''Do caso dos caminhões!'' | ''Do caso dos caminhões!'' | ||
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''De guerra... caminho escuso...'' | ''De guerra... caminho escuso...'' | ||
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''Câmbio negro... (Que embrulhões!)'' | ''Câmbio negro... (Que embrulhões!)'' | ||
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''À história (sem proposta)'' | ''À história (sem proposta)'' | ||
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''Do caso dos caminhões!...'' | ''Do caso dos caminhões!...'' | ||
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''Vale à salvante embrulhada'' | ''Vale à salvante embrulhada'' | ||
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''(Lenga-lenga salmodiada)'' | ''(Lenga-lenga salmodiada)'' | ||
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''Que "inocenta" os chefões!'' | ''Que "inocenta" os chefões!'' | ||
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''Salvaguarda da aparência'' | ''Salvaguarda da aparência'' | ||
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''(Salário sem concorrência)'' | ''(Salário sem concorrência)'' | ||
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''Do caso dos caminhões!...'' | ''Do caso dos caminhões!...'' | ||
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''Que o Prefeito foi ferreiro'' | ''Que o Prefeito foi ferreiro'' | ||
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''Teve...e tem dinheiro...'' | ''Teve...e tem dinheiro...'' | ||
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''De acordo, sem senões!...'' | ''De acordo, sem senões!...'' | ||
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''Mas — que diabo! — em que ficou'' | ''Mas — que diabo! — em que ficou'' | ||
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''("A Montanha" publicou)'' | ''("A Montanha" publicou)'' | ||
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''O caso dos caminhões?..."'' | ''O caso dos caminhões?..."'' | ||
Edição das 06h46min de 9 de outubro de 2015
José do Carmo Eiras (1917-2006), o Zé Montanha, ganhou este apelido por ter sido gerente da A Montanha, jornal semanal que circulou em Cambuí entre abril de 1948 a dezembro de 1950. O jornal tinha como diretor-responsávei o deputado Milton Salles, da UDN, e, além de fazer o jornal como tipógrafo, Eiras publicou vários poemas satíricos assinados como Montanhês. Os poemas tinham dupla função: satirizar os políticos adversários e preencher os espaços em branco conhecidos como “calhau” na gíria dos gráficos.
Se na oposição estava a A Montanha, na situação tinha A Gazeta, dirigida pelo advogado Haley Lopes Bello e tendo como tipógrafo Pedro Nogueira, que obviamente passou a ser conhecido como Pedro Gazeta. E é sobre um escorregão deste jornal, que o Montanhês satiriza pela primeira vez em 5 de dezembro de 1948. Um certo réu teria sido “absorvido" pelo advogado Bello.
Eis um ‘belo’ advogado Que põe alma na defesa E o homem - tento contado - Vai pra rua com certeza... Pois manejando o Direito Vejam só, meu Deus do céu – É preciso ser perfeito Para ‘absorver’ o réu!...
(Numa nota no pé do poema, o Montanhês avisa que "absorvido" quer dizer "engolido, consumido, recolhido em si").
No poema seguinte (A Montanha, nº 34, 121248), o Montanhês satiriza a ordem do prefeito do PSD, João Batista Lopes, para que o Posto de Saúde só funcionasse do meio-dia às 16 horas. Há no poema uma notável atualidade sobre a saúde pública.
Muito bem, Senhor Prefeito! Tudo tem que ser bem feito Ordem em tudo, isto sim! Somente o que não tem hora E que entra noite afora É bilhar ou botequim Se é pobre, cambuiense O Posto é teu, te pertence Respeita, porém, o trato: Se tu ficares doente Assim, sem mais, de repente ‘Tem que ser’ das doze às quatro! Se tiveres congestão Ou mesmo intoxicação Dor de calo, ou outra dor Podes ficar sossegado Serás logo medicado No Posto pelo doutor Mas, por Deus, tenhas juízo! Lembras-te sempre do aviso Esquecê-lo é fatal! Se chegares adoecer É preciso, ‘tem que ser’ das doze às quatro! Que tal?!..."
Em 19 de dezembro de 1948, a sátira do Montanhês ataca o prefeito naquilo que é matéria-prima de todas as sátiras: a moralidade pública. Caminhões do prefeito estariam sendo pagos por serviços prestados à Prefeitura sem concorrência. No meio da sátira, os trocadilhos com a palavra "sal" se referem ao contrabando do produto feito durante a Segunda Guerra.
"A Gazeta" domingo vinha Distribuindo louvaminha Ao nosso "caro" prefeito: "No começo foi ferreiro... Em ser honesto, o primeiro: Homem limpo e é direito!... Depois num grande salseiro Quem ganhou muito dinheiro Com a guerra, aos montões? Salvando esse salvatério Do comentário, o critério Do caso dos caminhões! Co'esse recurso confuso, De guerra... caminho escuso... Câmbio negro... (Que embrulhões!) "A Gazeta" deu resposta À história (sem proposta) Do caso dos caminhões!... Vale à salvante embrulhada (Lenga-lenga salmodiada) Que "inocenta" os chefões! Salvaguarda da aparência (Salário sem concorrência) Do caso dos caminhões!... Que o Prefeito foi ferreiro Teve...e tem dinheiro... De acordo, sem senões!... Mas — que diabo! — em que ficou ("A Montanha" publicou) O caso dos caminhões?..."
No número seguinte, de 26 de dezembro de 1948, o Montanhês volta a pegar um besterol publicado na A Gazeta. O jornal do PSD, através do seu colunista "Mutuca" (Não se sabe até hoje a identidade correta do "Mutuca", entretanto as suspeitas recaem sobre Antônio Anastácio de Moraes, o "Tonho do Nico", funcionário publico), deseja que o número de placas colocadas em Cambuí pelo prefeito João Lopes seja bem maior do que as colo¬cadas pelo ex-prefeito, também do PSD, José Nascimento.
De São Paulo, o Mutuca
Em carta, agora, cutuca
O prefeito a emplacamento
Placas e placas sem fim:
‘Placas em tudo! Vá por mim
Siga o José Nascimento’
Quanto a isso, não contesto
E a favor me manifesto
Do tal da placamania!
Meteu placa em todo o lado
Da cadeia ao mercado...
Salve o ‘ex’ da placaria!...
E aqueles que inda virão
É certo, lembrar-se-ão
Desse governo a...placável
Que com placa...bilidade
Governou nossa cidade
Fazendo tudo notável
Segui-lo deve o Prefeito
Emplaque todo o seu feito
Eis uma ideia aplicável
E não quero implicar:
Tente com a placa aplacar
O murmúrio im...placável.
O último poema do "Montanhês" apareceu no número 37 de A Montanha, de 2 de janeiro de 1949. Um surpreendente defeito mecânico num gramofone revela o político.
Possuía meu conhecido
Alguns discos e um gramofone
E ao sentir-se aborrecido
Entediado ou mesmo insone
Infalível ser ouvido
Para as mágoas espantar
Polcas e valsas chorosas
Dessas próprias pra ninar...
E o que mais me divertia
(Ficando ele atrapalhado)
Era um disco em qual se ouvia
Um discurso tão gozado
Dum político que existia
Numa vila, o Sô Leutério
Nele o tal se elogiava
E num rompante esclamava
- Eu sou um homem muito sério!
É que tanto ele tocava
O disco veio a estragar.
A agulha não avançava
E o pobre do Só Leutério
Começando a discursar
Exclamava sem cessar
"Sério... sério... sério..."
Assim é o caso presente
Da Gazeta com o Prefeito
"Homem honesto e direito?"
Ele somente! Ele só...mente"
Luís Carlos Silva Eiras