Mudanças entre as edições de "Cine Cambuí"

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O nascimento de uma tradição
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''Tito Meyer'', da ACLAC
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A Cidade de Cambuí nasceu como uma parada entre Camanducaia e Pouso Alegre, e recebeu este nome devido as árvores que povoavam as margens do Rio das Antas. Seu nome significa "a planta ou a folha que se desprende". Em 1813, o Capitão Joaquim José de Moraes doou um terreno para ser construída a capela de Nossa Senhora do Monte do Carmo, no local hoje conhecido por Cambuí-Velho. Devido a um "relevo pouco propício", o arraial foi transferido, em 1834, para "o alto de uma colina cujo platô era adequado à edificação da praça principal do povoado". Foi construída uma nova capela em torno da qual cresceu a cidade que hoje conhecemos.       
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Em 1912, Cambuí ainda era administrada pelo Presidente da Câmara Municipal, apesar de  já contar com  20 anos de emancipação como Cidade.  A População urbana era de menos de 1500 pessoas, com 80% de analfabetos. Há apenas 2 anos a cidade contava com um Grupo Escolar, o atual Dr. Carlos Cavalcanti. É neste cenário que surge a primeira sala de cinema em Cambuí. Devem ter ocorrido sessões de cinema ambulante anteriores a esta data, mas não existem informações a este respeito.
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Na verdade, pouco sabemos desta história, pois poucas pessoas daquela época ainda estão vivas e eram muito crianças para lembrarem-se com clareza. Sabemos o que nos contam as fotografias, os jornais e os poucos livros escritos sobre o assunto.
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A Praça da Matriz era um descampado de terra, cercado de arame farpado. Não havia uma única árvore para amenizar o calor. A Igreja, modesta, possuía um torre solitária que fazia sombra a imagem do Cristo que chamava os fiéis a frente de sua porta principal. Ao lado da Igreja, funcionava o Mercado Municipal. Mesmo assim, Cambuí possuía um jornal semanal, chamado Correio do Povo e editado pelo Dr. Dráuzio de Alcântara e José Alexandre de Moraes. Dele, restam apenas 2 exemplares conhecidos: de dezembro de 1911 e julho de 1912, então em seu número 37. É neste número que encontramos uma propaganda do Recreio Cinema. Não podemos precisar sua inauguração, mas ocorreu antes desta data, 14 de Julho de 1912.  Funcionava no largo atrás da Igreja Matriz, onde funcionava o mercado. O Recreio Cinema era de propriedade do Major José Luiz Tavares da Silveira, farmacêutico formado em Ouro Preto, na época capital de Minas Gerais, antigo Juiz de Paz e presidente da Câmara Municipal no século XIX. 
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Os longa-metragens ainda não existiam e podemos imaginar que a programação era composta de curtas-metragens estrangeiros, baseado nesta única propaganda da época. Os filmes ainda eram mudos e o seriam ainda por muitos anos, o que nos trará muitas histórias ainda a serem contadas. O programa de variedades era composto de dois filmes dramáticos, um natural e um cômico, e ainda mais filmes a sua escolha. É estranho haver um estoque de filmes para ser exibido ao gosto do freguês. Nesta época os filmes ainda podiam ser comprados, e é possível que, junto com os projetores, o proprietário tenha adquirido alguns filmes. Provavelmente, também, o cinema funcionasse somente aos domingos.
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Em 1912, o acesso a Cambuí era por caminhos de tropas de burros. Uma viagem levava dias, enfrentando lama e cansaço. Poucas pessoas, àquela época, conheciam outros lugares exceto a própria cidade. Logo, imagens de costumes religiosos da Pérsia talvez fossem o que mais chamasse a atenção. Ainda hoje, com toda a globalização que nos trouxe a TV, os costumes árabes  do Irã, Iraque e região nos causam estranhamento.
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Naquele tempo, o cinema era o grande propagador de imagens, e as pessoas somente poderiam conhecer a Pérsia e outros lugares exóticos no cinema, além da própria cidade de São Paulo e do Rio de Janeiro, a Capital Federal. Levindo Lambert nos conta, em matéria publicada no Jornal "A Montanha", de 30/02/49:
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"A inauguração do cinema foi um acontecimento de grande ressonância em Cambuí e seus arredores. Instalara-o uma empresa, de que era presidente o saudoso farmacêutico José Luiz Tavares da Silveira.
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Os trabalhos técnicos foram feitos pela inteligência brilhante de João Batista Corrêa, mais tarde substituído pelo não menos inteligente Lázaro Silva.
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Não havia luz elétrica na cidade. Um motor a gasolina produzia a luz interna e externa e acionava o projetor.
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A banda de Música do Zeca Preto rompia um dobrado nos confins da Rua Coronel Lambert e marchava para o cinema arrastando já um punhado de assistentes. A Igreja se esvaziava e Frei Marcolino Dorelli, carmelita descalço, pregava zangado:
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- Calígula tinha um cavalo chamado Incitatus. Elegeu o cavalo Senador de Roma e dava banquetes, comidas finas e bebidas gostosas. Mas o cavalo relinchava e pateava quando via um feixe de alfafa.
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- O Povo de Cambuí é como o cavalo de Calígula: deixa a Igreja para procurar o Cinema...
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Não adiantava a arenga do frade ingênuo e bom. O povo largava a reza e acompanhava mesmo a Banda de Música, a caminho do cinema."
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O cinema foi palco de várias outras atividades em nossa cidade, desde sempre. Levindo Lambert transcreve em seu livro matéria relativa a festa da Bandeira, realizada pelo Grupo Escolar Dr. Carlos Cavalcanti e publicada no Jornal "Correio do Sul", de Camanducaia, " em 1913:
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"A NOITE - Ao anoitecer já o Recreio Cinema, caprichosamente iluminado, atraía as visitas de todos que convergiam para aquela casa de diversão, a fim de assistirem a continuação das festas, cujo programa foi fielmente observado. O Palco estava deslumbrante e o seu conjunto era de um efeito surpreendente e admirável bom gosto que presidiu a colocação de cortinas, bandeiras e flores artisticamente manufaturadas."
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Cambuí, àquela época, não tinha energia elétrica. Por "caprichosamente iluminado" podemos deduzir que havia um gerador que alimentava o projetor e servia também para iluminar o largo em frente. Levindo cita que o êxito alcançado pelo cinema com o gerador a gasolina, "sugeria à municipalidade a aquisição de gerador potente para a iluminação pública, particular e urbana. E isso foi feito, com algum êxito. A luz era dada aos usuários e logradouros até às 23 horas. Esse sistema perdurou até 1924."
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Aproximadamente em 1915, na gestão do Sr. Silvério Bento da Silva como presidente da câmara, houve uma  transferência dos locais entre o Mercado Municipal e o Cinema, bastante polêmica por sinal. É fato que o Mercado precisava sair do meio da praça, por razões de higiene. Foi então que o Mercado instalou-se no largo que hoje leva seu nome (apesar de hoje não mais existir) e o cinema veio para o endereço onde fincou raízes e permaneceu até os dias atuais.
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É claro que muitas mudanças ocorreram em quase 90 anos de história. Diversos proprietários, muitas mudanças, muitos percalços, mas também muitas histórias engraçadas, singelas... porque muitas vidas passaram pelo "Cine Cambuí". Ele sempre fez parte de nossa história e, como são muitos os anos, estamos apenas no começo.
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http://s20.postimg.org/pzfs71lzx/accinecambui.jpg
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''Cine Cambuí anos 60''
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http://s20.postimg.org/ay5hy9pct/cinecambu_hoje.jpg
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''Cine Cambuí hoje''

Edição atual tal como às 12h18min de 26 de novembro de 2015

O nascimento de uma tradição

Tito Meyer, da ACLAC

A Cidade de Cambuí nasceu como uma parada entre Camanducaia e Pouso Alegre, e recebeu este nome devido as árvores que povoavam as margens do Rio das Antas. Seu nome significa "a planta ou a folha que se desprende". Em 1813, o Capitão Joaquim José de Moraes doou um terreno para ser construída a capela de Nossa Senhora do Monte do Carmo, no local hoje conhecido por Cambuí-Velho. Devido a um "relevo pouco propício", o arraial foi transferido, em 1834, para "o alto de uma colina cujo platô era adequado à edificação da praça principal do povoado". Foi construída uma nova capela em torno da qual cresceu a cidade que hoje conhecemos.

Em 1912, Cambuí ainda era administrada pelo Presidente da Câmara Municipal, apesar de já contar com 20 anos de emancipação como Cidade. A População urbana era de menos de 1500 pessoas, com 80% de analfabetos. Há apenas 2 anos a cidade contava com um Grupo Escolar, o atual Dr. Carlos Cavalcanti. É neste cenário que surge a primeira sala de cinema em Cambuí. Devem ter ocorrido sessões de cinema ambulante anteriores a esta data, mas não existem informações a este respeito.

Na verdade, pouco sabemos desta história, pois poucas pessoas daquela época ainda estão vivas e eram muito crianças para lembrarem-se com clareza. Sabemos o que nos contam as fotografias, os jornais e os poucos livros escritos sobre o assunto.

A Praça da Matriz era um descampado de terra, cercado de arame farpado. Não havia uma única árvore para amenizar o calor. A Igreja, modesta, possuía um torre solitária que fazia sombra a imagem do Cristo que chamava os fiéis a frente de sua porta principal. Ao lado da Igreja, funcionava o Mercado Municipal. Mesmo assim, Cambuí possuía um jornal semanal, chamado Correio do Povo e editado pelo Dr. Dráuzio de Alcântara e José Alexandre de Moraes. Dele, restam apenas 2 exemplares conhecidos: de dezembro de 1911 e julho de 1912, então em seu número 37. É neste número que encontramos uma propaganda do Recreio Cinema. Não podemos precisar sua inauguração, mas ocorreu antes desta data, 14 de Julho de 1912. Funcionava no largo atrás da Igreja Matriz, onde funcionava o mercado. O Recreio Cinema era de propriedade do Major José Luiz Tavares da Silveira, farmacêutico formado em Ouro Preto, na época capital de Minas Gerais, antigo Juiz de Paz e presidente da Câmara Municipal no século XIX.

Os longa-metragens ainda não existiam e podemos imaginar que a programação era composta de curtas-metragens estrangeiros, baseado nesta única propaganda da época. Os filmes ainda eram mudos e o seriam ainda por muitos anos, o que nos trará muitas histórias ainda a serem contadas. O programa de variedades era composto de dois filmes dramáticos, um natural e um cômico, e ainda mais filmes a sua escolha. É estranho haver um estoque de filmes para ser exibido ao gosto do freguês. Nesta época os filmes ainda podiam ser comprados, e é possível que, junto com os projetores, o proprietário tenha adquirido alguns filmes. Provavelmente, também, o cinema funcionasse somente aos domingos.

Em 1912, o acesso a Cambuí era por caminhos de tropas de burros. Uma viagem levava dias, enfrentando lama e cansaço. Poucas pessoas, àquela época, conheciam outros lugares exceto a própria cidade. Logo, imagens de costumes religiosos da Pérsia talvez fossem o que mais chamasse a atenção. Ainda hoje, com toda a globalização que nos trouxe a TV, os costumes árabes do Irã, Iraque e região nos causam estranhamento.

Naquele tempo, o cinema era o grande propagador de imagens, e as pessoas somente poderiam conhecer a Pérsia e outros lugares exóticos no cinema, além da própria cidade de São Paulo e do Rio de Janeiro, a Capital Federal. Levindo Lambert nos conta, em matéria publicada no Jornal "A Montanha", de 30/02/49:

"A inauguração do cinema foi um acontecimento de grande ressonância em Cambuí e seus arredores. Instalara-o uma empresa, de que era presidente o saudoso farmacêutico José Luiz Tavares da Silveira.

Os trabalhos técnicos foram feitos pela inteligência brilhante de João Batista Corrêa, mais tarde substituído pelo não menos inteligente Lázaro Silva.

Não havia luz elétrica na cidade. Um motor a gasolina produzia a luz interna e externa e acionava o projetor.

A banda de Música do Zeca Preto rompia um dobrado nos confins da Rua Coronel Lambert e marchava para o cinema arrastando já um punhado de assistentes. A Igreja se esvaziava e Frei Marcolino Dorelli, carmelita descalço, pregava zangado:

- Calígula tinha um cavalo chamado Incitatus. Elegeu o cavalo Senador de Roma e dava banquetes, comidas finas e bebidas gostosas. Mas o cavalo relinchava e pateava quando via um feixe de alfafa.

E concluiu cheio de humor:

- O Povo de Cambuí é como o cavalo de Calígula: deixa a Igreja para procurar o Cinema...

Não adiantava a arenga do frade ingênuo e bom. O povo largava a reza e acompanhava mesmo a Banda de Música, a caminho do cinema."

O cinema foi palco de várias outras atividades em nossa cidade, desde sempre. Levindo Lambert transcreve em seu livro matéria relativa a festa da Bandeira, realizada pelo Grupo Escolar Dr. Carlos Cavalcanti e publicada no Jornal "Correio do Sul", de Camanducaia, " em 1913:

"A NOITE - Ao anoitecer já o Recreio Cinema, caprichosamente iluminado, atraía as visitas de todos que convergiam para aquela casa de diversão, a fim de assistirem a continuação das festas, cujo programa foi fielmente observado. O Palco estava deslumbrante e o seu conjunto era de um efeito surpreendente e admirável bom gosto que presidiu a colocação de cortinas, bandeiras e flores artisticamente manufaturadas."

Cambuí, àquela época, não tinha energia elétrica. Por "caprichosamente iluminado" podemos deduzir que havia um gerador que alimentava o projetor e servia também para iluminar o largo em frente. Levindo cita que o êxito alcançado pelo cinema com o gerador a gasolina, "sugeria à municipalidade a aquisição de gerador potente para a iluminação pública, particular e urbana. E isso foi feito, com algum êxito. A luz era dada aos usuários e logradouros até às 23 horas. Esse sistema perdurou até 1924."

Aproximadamente em 1915, na gestão do Sr. Silvério Bento da Silva como presidente da câmara, houve uma transferência dos locais entre o Mercado Municipal e o Cinema, bastante polêmica por sinal. É fato que o Mercado precisava sair do meio da praça, por razões de higiene. Foi então que o Mercado instalou-se no largo que hoje leva seu nome (apesar de hoje não mais existir) e o cinema veio para o endereço onde fincou raízes e permaneceu até os dias atuais.

É claro que muitas mudanças ocorreram em quase 90 anos de história. Diversos proprietários, muitas mudanças, muitos percalços, mas também muitas histórias engraçadas, singelas... porque muitas vidas passaram pelo "Cine Cambuí". Ele sempre fez parte de nossa história e, como são muitos os anos, estamos apenas no começo.

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Cine Cambuí anos 60

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Cine Cambuí hoje