Almanaque de Cambuí

De Wiki Cambuí
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Luís Carlos Silva Eiras

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Tem que ter um começo e este começo é um fim como se verá. Numa tarde, dois senhores com mais de 60 anos, dois primos, dois grandes amigos, se encontraram depois de muitos anos e a alegria do encontro foi tão grande, que eles se esqueceram de lembrar porque estavam se encontrando: o pai de um deles, tio e também grande amigo do outro, tinha morrido e no dia seguinte seria a sua missa de sétimo dia. Os dois se sentaram à mesa e, enquanto a esposa do que tinha perdido do pai servia o lanche, eles conversaram durante quatro horas sobre a infância que passaram juntos. Amigos, filmes, as travessuras, as correrias, a escola, as notas, os avós, as festas, as aventuras, os gibis, a cidade, as mudanças de pensamento. Riram muito até o tempo esfriou, apareceram outros compromissos e marcaram um almoço para o dia seguinte, quando, depois, iriam para a missa.

De madrugada um depois morreu.

O outro ficou para escrever isto.

Se já se tem um fim, qual seria o começo? A chegada a Cambuí à noite no final de 1956 – você nasceu em 1950, de forma é que muito fácil saber quantos anos você tinha - vindo de São Paulo com sua mãe depois de um dia inteiro de ônibus em estradas de terra. As pessoas sentadas nas poltronas da esquerda se levantaram para ver as luzes da cidade, pequenos pontos amarelos vistos através das janelas. É a sua mais antiga lembrança. Depois, na casa da tia Ercília, você conhece também sua tia Teresa, seus primos Zezé e Pida, e seu primo Lúcio, um pouco mais velho do que você, lhe oferece rapadura – que você detestou. Assim, termina o primeiro dia de que é possível lembrar desse período, que vai durar até o final de 1960, quando numa tarde você vai sair numa Kombi para nunca mais voltar.

Mas tem um começo melhor e é esse que realmente interessa.