Cambuí e a Revolução de 1932

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João Carvalho


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Após o combate do dia 20 de julho (Pouso Alegre)

Um fragmento do Batalhão Patriótico Fernão Dias Paes Leme, recua para Borda da Mata.

Este fragmento (tropa) constitucionalista comandado pelo capitão ano, procurando uma posição defensiva, depois de penosa caminhada, através de montanhas, atingiu o distrito de Bom Retiro ( Bom Repouso ).

Do distrito de Bom Retiro, descem as montanhas em direção sul (São Paulo).

As tropas Constitucionalistas atingem Cambuí e tomam a cidade de assalto.

O telégrafo é cortado, as entradas e saídas da cidade são fechadas.

Na praça Coronel Justiniano, montam acampamento cruzando os fuzis. Ocupando o Clube da Mocidade (Sr. Francisco Perrone Neto) e o Grupo Escolar Dr. Carlos Cavalcante, que com isso tem suas aulas suspensas.

Cambuí estava completamente desguarnecida, nem sequer um soldado da polícia estava presente.

A tropa constitucionalista após ter dominado a cidade, poderiam tê-la saqueado, pondo à sua mercê a diminuta população civil. No entanto isto não se verificou.

A tropa ocupou com muita ordem e disciplina, embora, pudesse exigir alimentos e utilidades pela força, foram bastante corretos.

Nenhum cidadão civil foi molestado.

O comandante da tropa constitucionalista procurou sempre entrar em contato com o prefeito municipal (David Herculano Bueno).

O povo acompanhava como um espectador apreensivo e temeroso; nas casas, nas ruas e empórios, o assunto dominante era a ameaça da cidade ser envolvida em um combate com as tropas ditatoriais ( governistas ), e que o mesmo se estendesse as ruas.

Este era, então, o clima reinante na pequena cidade de Cambuí.

Atitude do Prefeito Municipal de Cambuí

Devido aos acontecimentos e o clima que se estabeleceu na cidade. O prefeito teve uma brilhante idéia, dirigindo-se ao Centro Telegráfico, simula (escreve ) um telegrama com data anterior a chegada da tropa constitucionalista.

Com a posse do telegrama, procura o comandante da tropa e passa as seguintes informações:

"Estamos deslocando um grupo militar para guarnecer a cidade".

O Prefeito salientou que os soldados que estavam deslocando pertenciam ao 8° RAM, soldados profissionais, bem treinados, que acabariam por liquidar seu pequeno grupo, composto de rapazes valorosos, idealistas, porém inexperientes, com precário adestramento militar e, além de tudo, numericamente inferiores.

O argumento do prefeito, deu certo, aliado à informações passadas pelos mercadores que percorriam a região.

O pequeno grupo (tropa) retrocedeu, o prefeito municipal sentiu-se feliz por ter evitado um verdadeiro massacre, com um possível confronto de tropas.

As tropas constitucionalistas, deslocam-se da cidade, onde tomam medidas defensivas, construindo barreiras e abrindo trincheiras na Serra da Canguava (1.253 metros), mais precisamente na Fazenda Criciúma de José César de Oliveira (Zéca Gino).

O proprietário da fazenda recebeu bem as tropas e até com festa. Um boi foi morto. Para cavar as trincheiras, foram fornecidas ferramentas e até uma boiada com arado que deu os primeiros riscos em curva de nível.

A posição estratégica era excelente, no alto da Criciúma, onde foram feitas as trincheiras (em forma de meia lua e comprimento de oito metros), tinham um controle total da estrada velha de Bragança, que ficava bem abaixo.

A ocupação da Serra da Canguava, constituiu um ponto estratégico, evitando uma ofensiva das tropas governistas que pretendiam invadir São Paulo.

Em Pouso Alegre constitui-se uma base aérea de onde partiam aviões do Exército, os "Vermelhinhos " como eram chamados, devido a cor da sua fuselagem e asas, em direção a zona de operações na divisa do Estado, onde se concentraram as linhas de defesa paulista.

"A toda a força aplicada corresponde a outra de igual intensidade mas em sentido contrário. Esta lei da Física foi apropriada pela história para justificar os ataques dos aviões (metralhadoras voadoras), em oposição às trincheiras paulistas na grande altitude da serra da Mantiqueira".

Setembro - Semana da Pátria

Havia um movimento constante de aviões (metralhadoras voadoras) sobre Cambuí. Era uma seqüência de vôos rasantes, disparos e em seguida arremedam.

Os vôos rasantes sobre a cidade, eram manobras ousadas, pareciam roçar a copa das árvores e arrancar os telhados das casas. Os disparos cruzavam o município de ponta a ponta, as balas perdidas colocavam em risco a vida da população.

Um espetáculo triste, os aviões (metralhadoras voadoras), apareciam as vezes em número de três. uma verdadeira esquadrilha de fogo. Algumas famílias mais assustadas retiraram-se da cidade, refugiando-se no distrito do Bom Jesus do Córrego e em fazendas, e entre os que permaneciam, reinavam a apreensão e o medo.

Com respiração presa e profundo silêncio o povo rendia em seus lares, as ruas ficaram praticamente desertas. As mães acenavam com lençóis brancos e diziam:

- Não queremos guerra, queremos paz!

Com a trégua (período em que não apareciam os aviões), houve um pequeno grupo de moradores numa parada cívica, uma manifestação de caráter popular, de repúdio aos ataques daquelas metralhadoras voadoras e diziam:

- Pedregulho, pedregulho, na cabeça do Getúlio!

Referência:

Café com Leite, João Carvalho, CD, Cambuí, 1996, páginas 41-43.